No dia 25 de janeiro de 2022, a servidora pública Doralice Carneiro começou a sentir uma fraqueza extrema no corpo e a enrolar a língua enquanto estava no trabalho. Achando ser um princípio de AVC, resolveu buscar a emergência de um hospital de Águas Claras, no Distrito Federal.
Ao chegar lá, Doralice desfaleceu em uma cadeira de rodas que estava na recepção. Sem entender o que estava acontecendo, a equipe médica encaminhou a paciente para uma tomografia com contraste.
A hipótese dos médicos era de um AVC de tronco, pois Dora, que hoje tem 46 anos, não conseguia movimentar braços e pernas e nem exibir expressões faciais. O diagnóstico de foi obtido após o parecer de um neurologista.
Ao examinar os olhos da paciente e perceber a ausência de reflexo e a pupila dilatada, o médico sugeriu aos colegas que a servidora pública estava com .
O caso, de acordo com o protocolo padrão, foi comunicado à Vigilância Sanitária do Centro-Oeste, que recolheu amostras de alimentos armazenados na geladeira da mulher.
Dois meses depois, com Doralice ainda internada, o resultado saiu e confirmou a presença de toxina butolínica no molho pesto. Ela havia comprado o produto artesanal em uma feira do DF. Os outros dois alimentos – o salmão e o atum – não deram positivo para a toxina.
O botulismo é uma infecção bacteriana grave não contagiosa. A bactéria , responsável pela contaminação, produz uma toxina que, mesmo se ingerida em pequenas quantidades, pode levar a um envenenamento grave em poucas horas.
O paciente desenvolve o botulismo após ingerir alimentos contaminados, que foram produzidos ou armazenados de forma inadequada. Os mais comuns são conservas vegetais, sobretudo as artesanais, carne e pescados defumados.
Após 15 dias de internação, os médicos fizeram uma traqueostomia em Doralice e as complicações começaram a surgir. “Tudo parou, menos meu cérebro e coração”, conta.
A servidora vinha sendo alimentada por sonda gástrica e, em um episódio, houve um vazamento que quase provocou uma infecção generalizada.
No dia 5 de dezembro de 2022, quase um ano depois da internação, Doralice finalmente recebeu alta. Em casa, ela ainda passou quase quatro meses caminhando com auxílio de um andador e, até hoje, se sente fraca e com muitas dores.
Não bastasse os prejuízos para a saúde, Doralice se endividou. Ela deve quase R$ 400 mil reais de co-participação para seu plano de saúde devido aos 10 meses de UTI e aos 40 dias no quarto do hospital. Atualmente, Doralice faz sessões de fisioterapias semanais e está em contato com advogados para mover um processo contra os fabricantes do molho.